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sábado, 19 de maio de 2012

Medo medalhando



O revezamento da Tocha Olímpica começou nesse sábado. O fogo sagrado veio de Olímpia, na Grécia, e aportou na Grã Bretanha, onde percorrerá, durante 69 dias, algo em torno de 13 mil quilômetros e será conduzido por oito mil pessoas. Quem acenderá a Pira Olímpica é sempre o segredo-mor da Cerimônia de Abertura, mas é certo que o atleta que recebeu a tocha em território britânico foi escolhido muito bem, o iatista Ben Ainslie, medalhista de ouro nas três últimas olímpiadas. A festa para a chegada do fogo pagão à terra da rainha não esconde, porém, que até esse revezamento da tocha passa pelo chato espírito proibitivo que tomou conta das olimpíadas londrinas.

Por medida de segurança, está proibido o uso de telefone celular nos locais de competição durante as Olimpíadas. Também é por questão de segurança que falam em instalar mísseis em prédios residenciais próximos ao Parque Olímpico. O medo britânico do terrorismo é bem justificável, diga-se. O atentado do Setembro Negro, em Munique/1972, e a bomba que explodiu no parque olímpico de Atlanta/1996, durante um show musical, já são, por si sós, bons indicativos de que é necessário cuidar da segurança. E imagine, então, o efeito causado pelos atentados ao metrô londrino, dois dias depois de a cidade ter sido eleita para sediar os Jogos.

As medidas, contudo, não ficam só nisso aí.

Por questão de higiene e, consequemente, de saúde, os atletas britânicos receberam a recomendação de não apertarem a mão de seus adversários. Alegando proteção aos direitos da marca olímpica, o comitê organizador conseguiu vetar uma série de palavras e expressões das propagandas de quem não patrocine as Olimpíadas - expressões como dois mil e doze, Londres 2012, vinte doze e outras só podem aparecer nas campanhas publicitárias, se obedecerem a algumas normas. Prometem, também, ficar atentos ao marketing de emboscada, como o de uma cervejaria que colocou um monte de modelos holandesas uniformizadas nas arquibancadas da Copa da Àfrica do Sul, há dois anos. E exortando a proteção aos direitos de transmissão dos Jogos, está proibida a veiculação de fotografias e vídeos de competições olímpicas por parte de espectadores nas redes sociais.

Medo de terroristas, medo de mãos sujas, medo de golpes do capitalismo estão transformando os Jogos Olímpicos de Londres num chatice sem tamanho, num festival de proibições. Nem o revezamento da tocha escapou.

Com medo de que a tocha seja alvo de protesto em redor do mundo, como foi em 2008, o fogo olímpico não sairá da Grã Bretanha. A corrida, que serve para engajar os povos no movimento olímpico, que mostra que os Jogos não são de uma cidade ou de um país, mas da humanidade inteira, ficou restrita, fechada, sem a graça de antes.

O cronograma da organização dos Jogos está sendo cumprido à risca, o orçamento, dizem, não extrapolou, os estádios e arenas foram construídos de modo sustentável, o Parque Olímpico revitalizou uma zona esquecida da cidade de Londres etc., etc. Tudo perfeito, não fosse o medo. O medo de tudo.

(foto: london2012.com)

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